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Vera Cruz Island

Rainbow Records | 2001

 

  1. Vera Cruz Island (Vera Figueiredo)
  2. Tererê (Vera Figueiredo/Mônica Côrtes)
  3. Devagar (Zaxariades aka Bruce Scott)
  4. Renata (Vera Figueiredo)
  5. Double V  (Vera Figueiredo)
  6. Deep Inside (Vera Figueiredo)
  7. Reaching Another Day (Vera Figueiredo)
  8. Reverse (Maurício Marques)
  9. Chamamé (Rodrigo Rheinheimer)
  10. Mr. Banana (Vera Figueiredo)
  11. Figão's House (Vera Figueiredo)
  12. Cai na real (Maurício Marques)
  13. Dave (Vera Figueiredo)
  14. Saudade (Vera Figueiredo)

Em seu novo disco, Vera abre seu leque musical, mas sem cometer qualquer tipo de exagero no que se refere ao virtuosismo. Optando por apresentar temas com belas melodias, a baterista encontrou e ponte perfeita e harmoniosa para que seu estilo rítmico rebuscado se encaixasse perfeitamente nas composições. Exemplos disso estão na faixa-título, em que os arranjos complexos soam leves ao mesmo tempo, e em "Devagar", com swing quebrado na medida certa.

 

Há influência da (boa) música baiana em "Tererê", melodias belíssimas e etéreas em "Renata", "Chamamé" e "Deep Inside" (esta com a ótima presença do guitarrista Mike Stern, a quem a música é dedicada), mas os pontos altos estão no rockão/samba/fusion "Reaching Another Day", na malemolência esperta de "Figão's House"(em que Vera e Dennis Chambers fazem um diálogo rítmico bastante instigante), nos solos sutis e na atmosfera meio Weather Report em "Double V" (com Virgil Donati), no chorinho/fusion/jazz "Reverse" e na complexa "Dave" (as duas últimas com a participação de Dave Weckl).

 

Vera Cruz Island é uma espécie de álbum de fotografias da alma de Vera: intenso, com belas imagens e cheio de paixão pela sua arte.

 

Régis Tadeu 

O álbum Vera Cruz Island serviu de base para o livro play-along homonimo, escrito em coautoria com Daniel Oliveira. 

 

Clique na imagem para saber mais a respeito.

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From Brasil

Camerati | 1995

 

  1. From Brasil (Vera Figueiredo)
  2. À Cara Gê (Vera Figueiredo)
  3. Saudade (Vera Figueiredo)
  4. Flores que reggae (Vera Figueiredo)
  5. Sem rumo (Maurício Marques)
  6. Tá bom (Bruce Scott)
  7. Estrela (Vera Figueiredo)
  8. Forró com sabor de salsa/For All (Vera Figueiredo)
  9. Mr. Bakalau (Vera Figueiredo)
  10. O perfume (Vera Figueiredo)
  11. Flávia (Itamar Collaço)
  12. Coreto lá da praça (Vera Figueiredo)
  13. Araçá (Vera Figueiredo)

 

 

From Brasil ... Jazz, funk e a fusão da música instrumental, brasileira ou não. "From Brasil"... uma centena de ritmos deste país, música brasileira, instrumental.

 

Sólida carreira como instrumentista, Vera Figueiredo resume neste trabalho seus melhores momentos como instrumentista, compositora e também cantora, durante o período de quarenta meses "in" estúdio. Período longo? Talvez, se comparado às produções que raramente ultrapassam seis meses. Mas "From Brasil" é diferente e justifica cada minuto. As treze faixas representam parte de improvisação em encontros memoráveis, como um álbum de fotografias muito bem selecionadas, onde ritmo e melodia têm a mesma cor (e trata-se de um trabalho solo de uma baterista).

 

"From Brasil" ,a faixa título, de certa forma indica o rumo das doze faixas seqüentes (ritmo, muito ritmo, do Brasil, de Cuba, da Jamaica ...). Assim acontece com instrumentistas que têm história e fazem do trabalho sua imagem e semelhança. O tratamento dado às composições que assina (o total de dez), como "À Cara Gê", "Flores Que Reggae" e "Forró Com Sabor De Salsa", refletem a "latinidad" de sua cozinha rítmica de tempero picante. 

 

Improvisando também com a voz, "Saudade", "O Perfume" e, principalmente, "Estrela", insinuam promissora carreira como cantora, iniciada nos bailes da vida, interpretando Carpenters. Fotografias do mesmo álbum, "O Coreto Lá Da Praça" e "Mr. Bakalau" empolgam. Dentre ilustres convidados como Fred, Walmir Gil, Proveta, Cacá Malaquias, Derico Sciotti, Ed Côrtes, Rubinho Chacal, Mike Fahn, Marcos Romera, Carmelo Fornelli, Jarbas Barboza, Vitor Alcântara, Júnior Galante, Paulinho Oliveira, Maguinho, Celso Pixinga, Faíska, Maurício de Souza, Ney Marques, Lourenço Pezutti Neto, Fernando Corrêa, Alex Frontera, Gê Cortes ... em "Mr. Bakalau", Vera Figueiredo divide pratos e tambores com Billy Cobham, o baterista que conquistou Miles Davis, revolucionando o conceito de tocar bateria. Quem diria que dois corpos (de bateristas) não poderiam ocupar um mesmo lugar ao mesmo tempo? Podem e com muito talento.

 

Polir, lapidar ... remasterizar. "Araçá" foi extrair brilho e beleza da bossa nova. Composição do primeiro trabalho solo (Vera Figueiredo - Selo Baratos Afins, 1990), a versão ganhou brilho e valorizou arranjos.

 

Originalmente "abrasileirado", "Tá Bom" é samba de americano. Amante dos ritmos brasileiros, o talentoso músico e compositor Bruce Scott sempre esteve envolvido com músicos brasileiros, inclusive com a baterista, durante sua estada em Los Angeles. Great!

 

Baixo e bateria ... e um casamento perfeito. Quando Vera Figueiredo deixou de participar do grupo Kali, Itamar Collaço foi o baixista cogitado para acompanha-la em sua carreira solo. Dai o casamento. Absolutamente preciso, Itamar participou de quase todas as sessões de gravação, propondo arranjos e composições, como "Flávia". Também indispensável foi a participação de Maurício Marques, arranjador, pianista e compositor. Responsável pelos arranjos de "From Brasil", Maurício, talentoso como músico e compositor, assina a faixa "Sem Rumo".

 

Ouvindo "From Brasil", não resta dúvida que trata-se de um trabalho de uma baterista ... de um baixista, tecladista, saxofonista, de gente que não mede tempo para fazer o que gosta e como gosta : preservar o prazer de fazer boa música.

 
Roberto Sallaberry

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Vera Figueiredo & Convidados

Baratos Afins | 1990

 

  1. Julinho (Vera Figueiredo)
  2. Jamaica (Bruce Scott)
  3. Eco (Vera Figueiredo) Música incidental: Ribbon In The Sky (Stevie Wonder)
  4. Tudo bem (Bruce Scott)
  5. Merry Christmas, Mr. Lawrence (Ryuichi Sakamoto)
  6. Batuque na casinha do Figão (Vera Figueiredo)
  7. Araçá (Vera Figueiredo)
  8. Rumba meu boi (Vera Figueiredo)
  9. Paraíba (Luiz Gonzaga)
  10. De Vera (Hermeto Pascoal)

A perfeição não é impossível de ser alcançada. Nem representa o estágio máximo do desenvolvimento de um talento. Pelo menos no caso de Vera Figueiredo - exemplo admirável, ainda que realmente raro, de músico que alcançou há muito uma perfeição técnica incontestável, e mesmo assim (ou por isso mesmo) continua seu processo evolutivo. Exatamente como Phill Woods, Keith Jarret, Sonny Rollins e Eddie Gomez. Neste sentido, a maturidade artística só faz reforçar os fundamentos de uma concepção própria. Algo que, por sua vez, tem permitido à Vera um aprimoramento estilístico incessante. 

 

Em vários aspectos, o vigor criativo de Vera Figueiredo pode ser comparado, sem o reducionismo simplista comum a este tipo de raciocínio, ao de S.Gadd. Um dos mestres a quem ela dedica este disco (o outro é revolucionário patrício Airto Moreira), Steve, assim como Vera, conseguiu a proeza de elaborar uma arte interpretativa inconfundível. As "coincidências", porém, não param aí. Ambos não conhecem limitações no domínio do instrumento, possuem uma sonoridade clean apuradíssima, estão livres de preconceitos tradicionalistas e, por fim, revelam uma versatilidade - hoje em dia tão confundida com indefinição estilística impressionante. 

 

Nada disso significa, entretanto, que Vera procure imitar Steve Gadd ou qualquer outro ídolo. Muito ao contrário. Apenas tratou de elaborar sua personalidade artística usando como referencial, simplesmente um dos melhores bateristas da face da terra. À esta inspiração, somou uma série de características pessoais, adicionou o tempero brasileiro, e a partir daí deu início a uma trajetória brilhante, jamais permitindo que seu virtuosismo derrapasse para o exibicionismo inconsequente. 

 

Estrela de brilho próprio, verdadeira supernova no nosso cenário musical contemporâneo, Vera Figueiredo estudou, de 75 a 77, com Rubens Barsotti, baterista do Zimbo Trio, no famoso CLAM, em São Paulo. A mesma escola frequenta da por Eliane Elias, pianista com quem Vera logo depois viria a tocar, formando os grupos Talismã e Bonzo. Em 80, passou em primeiro lugar em um concurso para a Orquestra Juvenil do Estado de São Paulo, nela permanecendo por dois anos, atuando em diversos concertos sob a regência de John Neschiling.

 

Simultaneamente, foi pouco a pouco tornando-se conhecida na noite paulista, apresentando-se com expoentes dos mais diversos gêneros. De Clementina de Jesus a Lucho Gatica. De Ritchie a Toninho Horta, passando por Isaurinha Garcia, Maria Creuza, João Donato e Eliete Negreiros. Após temporadas em Portugal e Espanha, fundou no Brasil o grupo Kali, cujo álbum de estreia, em 86, ajudou a projetá-la nacionalmente. Naquele ano, durante show no club Jazzmania, no Rio de Janeiro, Vera deixou o público e a crítica boquiabertos, extasiados com sua performance esplêndida, realçada por carismática presença de palco. Apesar do destaque individual, somente realizou sua primeira apresentação-solo em março/89, no Sesc Pompéia. 

 

Agora, como consequência natural do êxito das investidas em shows como líder, surge este disco excepcional. Fruto também, segundo palavras da própria Vera, "da vontade de realizar um trabalho em uma nova linha, mais latina, diferente da sonoridade fusion do Kali". Buscando tal objetivo, ela idealizou sozinha todo o repertório e a produção do álbum, evitando ao máximo o recurso de overdubbing, a fim de captar um clima de gravação " ao vivo ". Por isso, uma saudável sensação de espontaneidade - nada a ver com displicência permeia todas as dez faixas. 

 

Em metade delas, aliás, Vera exercita sua faceta de compositora. A começar pela abertura, Julinho, "dedicada a um amigo que já me deu altas forças". Impulsionada por atraentes evoluções rítmicas, com sucessivas alternâncias de andamento talvez tenha sido a faixa mais difícil de ser gravada. "Já tinha tentado duas vezes, mas nunca ficava satisfeita com os resultados", conta a líder. "Quando estava quase desistindo, resolvi convidar a Silvia Goes para escrever um novo arranjo, e ela acertou em cheio, mudando inclusive a sequência harmônica da introdução". 

 

Além do arrasador desempenho de Vera, vale destacar, em Julinho, o solo contagiante sincopado de Silvia no piano e as alucinadas marcações de seu marido, o baixista Arismar do Espírito Santos, entortante o tempo inteiro. Próximo ao final, Vera não resiste à tentação de soltar a voz, acrescentando este atrativo extra a uma prova prática de que a fusão de jazz e samba, para soar estimulante, não precisa necessariamente resultar em bossa-nova. 

 

Contrastando com a "construção bem rítmica, típica da concepção de um baterista", verificada em Julinho, a líder extravasa seu lado romântico em dois temas. O primeiro, Eco, "um bolero que se enquadra na proposta latina", teve seu título inspirado em uma revista especializada em bateria e percussão, editada em Sampa, para qual ela colabora com artigos ou transcrições de partituras. Atacando também no sintetizador DX7, Vera coloca o baixo elétrico de Serginho Oliveira e o Sax tenor de Ed Côrtes na linha de frente, encaixando uma citação de Ribbon in the Sky, de Stevie Wonder. 

 

O segundo número Araçá, revela-se ainda mais cativante, repleto de lirismo e sutileza compatíveis com sua placidez sonora. Demonstrando seu poder de economia musical, Vera consegue, com poucas notas, criar uma atmosfera mágica, encantadora, "união dos sentimentos de tristeza e esperança". Um retrato da singeleza do amor, adornado pelos teclados de Alex Frontera e pela flauta de Derico Sciotti. Momento de pura emoção, verdadeira aula de como utilizar a noção de espaço na estrutura de uma composição, sucedendo ao Batuque da Casinha do Figão ("fiz para o meu pai, pensando na irritação dele por ter uma filha que ficava o tempo todo batucando em panela") e precedendo ao ritual pecussivo de Rumba Meu Boi "um diálogo improvisado entre Rubinho Chacal e eu, com bastante uso de timbales"). 

 

Bruce Scott, cantor norte-americano com quem Vera se apresentou, em 88, no club de jazz californiano At My Place, aparece como autor das faixas Jamaica e Tudo Bem."Possuem um clima descontraído, alegre, quase de festa. Nos shows que tenho feito, eu inclusive incentivo o público a dançar, pois este tipo de reação é importante para mim", comenta a baterista. Outro número já obrigatório nos shows e que, portanto, não poderia faltar no disco, Merry Christmas Mr. Lawrence, de Ryulchi Sakamoto, recebe novo tratamento, com Vera aplicando um groove certeiro. 

 

Completando o álbum, Hermeto Pascoal marca presença em duas faixas "Sempre que o Hermeto me via tocar, fazia altos elogios que me deixavam super feliz, pois sinto por ele uma enorme admiração. Até que, no ano passado, depois de ter me convidado para participar de um disco dele, acabou se oferecendo para gravar no meu álbum. E é lógico que eu não ia deixar passar uma oportunidade dessas", observa a privilegiada. 

 

Não saciado com a missão de colocar um solo de DX7 na arrojada recriação do baião Paraíba, de Luiz Gonzaga, recheado por citações de Malagueña, Hermeto quis fazer uma música especialmente para a artista. Assim nasceu De Vera, criada na hora da gravação, captada sem ensaio algum, com a voz da homenageada às vezes adivinhando os devaneios do gênio.Comovente reconhecimento do bruxo à alma sonora da baterista. Fecho preciso para esta celebração da arte de viver da música/para a música. Em outras palavras, uma celebração do talento de Vera Figueiredo

 

Arnaldo De Souteiro